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CINCO ANOS DEPOIS
02/01/2011 - UOL/The New York Times
O impacto das doações de Gates a cientistas é avaliado
Cinco anos atrás, Bill Gates fez uma oferta extraordinária: ele convidou os cientistas do mundo todo a enviar ideias para resolver os maiores problemas da saúde global, incluindo a falta de vacinas para Aids e malária, o fato de que a maioria das vacinas precisa ser mantida em refrigeração e entregue em seringas, o fato de muitas plantações tropicais, como mandioca e bananas, terem pouco valor nutritivo, e assim por diante.
Nenhuma ideia seria radical demais, e o que ele chamou de Grandes Desafios da Saúde Global iria buscar caminhos que impossÃveis para o Instituto Nacional de Saúde e outros patrocinadores de estudos.
Cerca de 1.600 propostas chegaram, e as 43 principais eram tão promissoras que a Fundação Bill & Melinda Gates liberaram US$ 450 milhões em bolsas de cinco anos - mais de duas vezes a estimativa inicial.
Agora os cinco anos se passaram, e a fundação recentemente trouxe todos os cientistas a Seattle para avaliar os resultados e decidir quem seguirá recebendo os financiamentos.
Numa entrevista, Gates soou de certa forma moderado, dizendo diversas vezes: âNós fomos ingênuos quando começamosâ.
Como exemplo, ele citou a busca por vacinas que não precisassem de refrigeração. âNa ocasião, eu pensei: âNossa, teremos uma porção de vacinas termoestáveis em 2010â. Mas não estamos nem perto disso. Eu ficaria surpreso se tivermos ao menos uma em 2015â.
Ele afirmou ter subestimado o tempo consumido para levar um produto do laboratório aos experimentos clÃnicos, à fabricação de baixo custo e à aceitação em paÃses de terceiro mundo.
Em 2007, em vez de conceder mais bolsas multimilionárias, ele começou a distribuir centenas de financiamentos de US$100 mil.
âHojeâ, disse ele, meio de brincadeira, âvocê ganha cem mil até se fingir que pode curar a Aidsâ.
Esse valor não comprará uma grande descoberta, mas permite que os cientistas façam âbicosâ ao agregar novos objetivos a suas bolsas já existentes _ o que faz a fundação evitar muita peneiração. âEâ, acrescentou ele, âum cientista num paÃs em desenvolvimento consegue fazer muitas coisas com US$100 milâ.
No geral, segundo ele, âpor direcionar atenção a maneiras de salvar vidas através de avanços cientÃficos, eu os daria uma nota Aâ.
âMas achei que alguns já estariam salvando vidas hoje, e parece que isso só acontecerá com pelo menos mais dez anosâ.
Diversos cientistas na conferência lembraram que Gates veio da indústria dos softwares, onde o poder de computação é constantemente dobrado. A biologia, em comparação, avança de forma glacial _ os micróbios são menos cooperativos que os elétrons.
A biologia também possui uma tendência maior a criar controvérsias anti-progresso. Por exemplo, realizar ensaios clÃnicos em participantes analfabetos de paÃses pobres - algo que já foi barato e rápido, mas eticamente duvidoso - tornou-se um processo demorado e caro, com a elevação dos padrões éticos.
Além disso, os paÃses pobres, sem autoridades regulamentadoras ou elites polÃticas e cientÃficas altamente educadas, podem ficar apreensivos quanto a serem usados por cientistas ocidentais - e cautelosos em aceitar novas tecnologias.
Apesar das descobertas em muitas frentes, até dois terços das bolsas ou não foram renovadas, ou podem ser canceladas num futuro próximo, estimou Gates. E alguns casos, isso ocorreu porque os projetos não vinham obtendo sucesso, cientificamente ou por obstáculos polÃticos, ou outra pessoa havia encontrado um caminho melhor. Em outros, a fundação mudou o objetivo.
A seguir há uma amostra do progresso em algumas áreas.
Vacinas secas
Os inventores mais afetados foram aqueles trabalhando nas vacinas termoestáveis. Diversas técnicas funcionaram, mas pagar pela continuidade de todas não fazia muito sentido. Bilhões de dólares _ incluindo centenas de milhões da Fundação Gates _ foram injetados no aprimoramento da distribuição de doze vacinas refrigeradas já existentes, e ter uma ou duas estáveis ao calor não ajuda se as clÃnicas rurais ainda precisam de refrigeradores e eletricidade para o restante.
O Dr. Abraham L. Sonenshein, da Universidade Tufts, conseguiu combinar as proteÃnas da vacina de tétano num esporo bacteriano que sobrevive no frio e no calor, e pode ser borrifado dentro do nariz. Mas sua bolsa terminou antes que ele pudesse adicionar vacinas para difteria ou coqueluche, e antes de iniciar os experimentos em humanos.
Sonenshein disse ser grato à Fundação Gates pelo dinheiro inicial, e agora pode mudar para vacinas veterinárias. âMuitos criadores gostariam de poder vacinar seus próprios porcos e vacas, em vez de chamar o veterinário todas as vezesâ, disse ele.
O Dr. Robert E. Sievers, de 75 anos, quÃmico da Universidade do Colorado, também atingiu seu objetivo principal _ unir uma vacina contra sarampo a uma matriz de açúcar que pode ser armazenada no seco e então borrifada nos pulmões de uma criança.
Seu primeiro açúcar _ baseado naquele que protege os âfantásticos macacos do marâ vistos em revistas em quadrinhos (na verdade, artêmias secas) _ não funcionou, então ele encontrou outro. Em seu discurso de cinco anos atrás, num encontro de vencedores das bolsas, ele falou de um dispositivo que vibra o ar para enviar partÃculas ao interior dos pulmões. Isso também não funcionou, então ele projetou um tampão que lança o açúcar numa pequena sacola plástica, criando uma nuvem doce que é inalada pela criança.
Embora a bolsa Gates para Siever não esteja sendo renovada, ele está se juntando ao Instituto Serum, da Ãndia _ o maior fabricante de vacinas do mundo _ para testar o produto naquele paÃs.
A fundação ainda está financiando duas técnicas de termoestabilização.
A primeira une vacinas a nanopartÃculas que podem ser absorvidas pela pele dentro das narinas. O Dr. James R. Baker Jr., diretor do instituto de nanotecnologia da Universidade de Michigan, confirmou sua eficácia com as vacinas contra hepatite B e gripe. Ele ganhou uma nova bolsa para testar o vÃrus sincicial respiratório, que causa pneumonia.
As partÃculas estão no que Baker descreveu como uma âfórmula patenteada de maioneseâ, baseada em óleo de soja. A vacina acaba dentro das partÃculas de óleo, o que a protege contra mudanças de temperatura e micróbios. O sistema imunológico é âfeito para comer gotas de óleoâ, disse Baker, por focar em vÃrus, que são essencialmente bombas-relógio de instruções genéticas em invólucros de gorduras. A âmaioneseâ é tão segura, segundo ele, que ratos comeram o equivalente a dois litros por dia e só tiveram um efeito colateral _ ganho de peso. A emulsão em si cura lesões virais como feridas de frio, disse ele; seus surfactantes penetram na pele de maneira inofensiva, mas quebram os vÃrus de herpes no interior.
A segunda vacina termoestável que a fundação ainda está financiando é uma bastante complexa, contra a malária. Ela funde os genes para proteÃnas parasitas numa âespinha dorsal genéticaâ de vacinas contra varÃola e um vÃrus de chimpanzés.
Em vez de ser engarrafada, a vacina pode ser desidratada até ficar parecida com um pedaço de filtro de papel. Nenhuma vacina contra malária chega perto de funcionar 100 por cento das vezes. O Dr. Adrian Hill, da Universidade de Osford, disse que a dele é a âsegunda mais eficiente no mundo todoâ. Ele propôs combiná-la com sua maior rival, produzida pela GlaxoSmithKline, já que sua vacina ataca o parasita da malária no fÃgado, enquanto a da Glaxo faz o ataque no sangue.
âIsso seria uma abordagem completaâ, afirmou ele. âPodemos prever uma eficácia acima de 80 por centoâ.
Laboratório numa caixa
Outra bolsa que não foi renovada foi de US$15 milhões, para diversas equipes colaborando num laboratório de diagnósticos portátil que funciona a bateria. O plano era fazê-lo dividir uma única gota de sangue em doze frações, para testar para gripe, malária, tifoide, dengue, sarampo, salmonela e outras infecções, todas em até 30 minutos. Muitoas avanços foram feitos, disse Paul Yager, engenheiro biológico da Universidade de Washington. A gota de sangue era direcionada a um cartão plástico com 23 camadas de microcanais, bombas e bexigas.
Mas os obstáculos continuaram aparecendo. Algumas doenças, como a gripe, deixavam muito poucos traços no sangue. Nem todas as empresas cujos testes patenteados seriam miniaturizados queriam cooperar. Um grande parceiro, a Hewlett-Packard, desistiu; outros foram adquiridos.
âFoi bastante desafiador ser o chefe de cinco equipes de pesquisaâ, disse Yager. âMas o maior problema em todo o projeto foi o âbaixo custoââ.
O protótipo tinha o tamanho de uma torradeira, pesava cinco quilos e custava mil dólares.
E embora o projeto não tivesse concorrência quando começou, surgiram dois tipos de rivais. Grandes empresas desenvolveram caixas que custavam até US$ 70 mil, mas ofereciam mais recursos. E George M. Whitesides, um quÃmico de Harvard, sentiu-se intrigado pelo mesmo desafio e começou a trabalhar numa variante revolucionária: esquecer o plástico, e deixar os fluidos passarem por papéis do tamanho de um selo de postagem infundidos em reagentes de alteração de cor. Há dois anos, a fundação lhe concedeu uma bolsa para desenvolver um teste de funções do fÃgado.
âEle estava certo _ o papel era uma boa soluçãoâ, afirmou Yager. âUm experimento que fizemos há quinze anos, com três bombas de US$ 1.000 e um microscópio de US$ 30 mil, pode ser feito hoje com o equivalente a cinco centavos de papelâ.
Hoje ele está envolvido em outros projetos, como escrever códigos e desenvolver produtos quÃmicos que transformarão câmeras de celulares e impressoras à tinta em dispositivos diagnósticos.
A bolsa Gates, segundo ele, âme levou a lugares que eu nunca teria ido, como uma aldeia sul-africana. Tenho tantos alunos que preciso afastá-los com uma vareta, e acabo ficando com uma enorme vontade de cumprir com os objetivos do programaâ.
Mosquitos âolfaticidasâ
Como os inventores de âuma linha de células que se comporta como uma antena de mosquitos, recriando narizes de mosquito em formato de antenaâ, o Dr. Leslie B. Vosshall, da Universidade Rockefeller, e o Dr. Richard Axel, pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes na Universidade Columbia, receberam US$ 5 milhões para caçar moléculas que pudessem bloquear a habilidade dos mosquitos em detectar pessoas. Axel dividiu um prêmio Nobel da medicina em 2004, por clonar receptores olfativos de insetos.
âQuando você sopra odores humanos sobre as células, elas ficam excitadas como os mosquitos ficariamâ, explicou Vosshall. Neste caso, elas se tornam verdes fluorescentes.
Eles testaram 91 mil compostos da biblioteca quÃmica da Universidade Rockefeller, e encontraram cinco que interferiam com as antenas. Sua bolsa Gates foi renovada por dois anos, mas hoje eles têm um contrato com a Bayer CropSciences para examinar seus 2 milhões de compostos _ o mesmo mecanismos de cheiro é usado por lagartas de milho, moscas de maçãs e outras pragas agrÃcolas.
O ideal, segundo Axel, é um repelente inofensivo a humanos que funcione numa fração da concentração do DEET.
Mas os repelentes não são a única forma de vencer os mosquitos, disse ele. Acionar o hormônio que diz a uma fêmea que ela já está cheia de sangue poderia funcionar, assim como um que a mande para longe dos humanos para botar seus ovos.
Células imunológicas âexaustasâ
Outra bolsa está terminando por ter atraÃdo demasiado apoio comercial. O Dr. Rafi Ahmed, imunologista da Universidade Emory, estuda por que as células T do sistema imunológico ficam âexaustasâ durante uma longa batalha contra alguns vÃrus, como o HIV ou o da hepatite C. Eventualmente, segundo ele, as células começam a desenvolver âreceptores inibitóriosâ em suas superfÃcies, como uma medida de autoproteção.
âNão se pode prolongar indefinidamente a reação totalmente ativa de uma célula Tâ, afirmou Ahmed. âVocê estaria doente ou mortoâ.
Em ratos e macacos, ele descobriu moléculas ou anticorpos que bloqueiam esses receptores inibitórios, deixando as células novamente em prontidão.
âIsso não resulta numa cura, mas é bastante promissorâ, disse ele.
Ele espera encontrar uma forma de reviver células exaustas em humanos com Aids, permitindo perÃodos intervalos sem os tóxicos medicamentos.
Como as células T combatem tantas doenças, incluindo câncer, a Genentech, a Bristol-Myers Squibb e o Instituto Nacional de Saúde estão todos lhe oferecendo dinheiro.
âSem Gates, não terÃamos conseguido reunir a equipe que reunimosâ, disse Ahmed. âO dinheiro, e a fantástica visão de um grande desafio _ isso foi uma das melhores coisasâ.
Uma banana melhor
O Dr. James Dale, da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, obteve sucesso em adicionar vitamina A em bananas, e agora está trabalhando sobre a adição de ferro. Uma nova bolsa Gates iria financiar os experimentos de campo em Uganda.
As bananas são um produto central a milhões de pessoas da Ãfrica ao Equador e à Ãndia. âElas são também um dos melhores alimentos para desmamar bebêsâ, afirmou Dale. âElas vêm num bom pacote estéril e não precisam ser cozidasâ.
O governo de Uganda concordou com as modificações genéticas desde que cientistas ugandenses fizessem o trabalho em bananas ugandenses, explicou ele. Dale encontra os trechos certos de DNA em seu laboratório, e os envia aos laboratórios agrÃcolas nacionais de Uganda para a inserção _ um trabalho de equipe elogiado pela Fundação Gates.
Ele não teve problemas ao realizar experimentos de campo em áreas de plantio de banana na Austrália.
âOs agricultores de lá sabem que as bananas são estéreis e não podem trocar genesâ, disse ele (as bananas são propagadas por mudas, não sementes).
Na Ãfrica, Dale manteve um perfil discreto _ já que pode levar mais uma década de testes antes que uma banana esteja pronta para distribuição aos plantadores.
Parte da bolsa Gates é dedicada a âexperimentos de alimentaçãoâ, para ver se as pessoas irão aceitar a nova fruta, de coloração alaranjada graças ao composto betacaroteno.
âTodos me perguntam qual o sabor da frutaâ, disse Dale. âNão sei.â
Suas licenças o proibiam de testá-la em humanos. Mas ele nunca sucumbiu à tentação de dar uma mordida?
âNão. E, mesmo que tivesse feito isso, não lhe diriaâ.
E uma mandioca melhor
A bolsa de US$ 7 milhões à BioCassava Plus, um consórcio liderado pela Universidade Estadual de Ohio, foi elevada a US$ 12 milhões. Embora também deva levar mais dez anos, o projeto está cumprindo metas intermediárias, afirmou Richard T. Sayre, seu principal pesquisador. Elas incluem reduzir o cianeto natural nos tubérculos, aumentar proteÃnas, ferro, zinco e vitaminas A e E, e pesquisar sobre a resistência a novas doenças da mandioca.
A mandioca é o produto de subsistência para 800 milhões de pessoas, mas grupos ambientalistas como o Greenpeace e o Friends of the Earth desaceleraram o projeto, opondo-se a experimentos de campo na Nigéria e em Uganda.
Martin Fregene, geneticista nigeriano e gerente de desenvolvimento de produtos da BioCassava Plus, os acusou de usar táticas de intimidação e de estimular jornalistas locais a publicar advertências de que a âmandioca assassinaâ estaria a caminho.
âEsses ambientalistas são paternalistasâ, afirmou ele. âEles tratam os africanos como se fôssemos crianças que não possuem ideias própriasâ.
âOs leitores de jornais de classe média nas capitais estão sob essa influênciaâ, disse ele. âMas eles representam apenas 20 por cento do paÃs. Quando fazemos reuniões com os agricultores, eles dizem: âSe você nos garantir que o produto é seguro, nós plantaremos. E não precisa se preocupar com os polÃticos. Nós cuidaremos delesâ.
A resistência à s safras geneticamente modificadas, bastante alto na Ãfrica cinco anos atrás, começou a desaparecer paÃs por paÃs, segundo Claude M. Fauquet, outro membro da equipe da mandioca. Por exemplo, quando plantadores em Mali e na Nigéria viram os grandes rendimentos que os agricultores de Burkina Faso conseguiram com algodão resistente a insetos, eles se mobilizaram pelo direito de também plantar aquele produto.
Mosquitos e bactérias
O projeto avançando na maior velocidade é o do Dr. Scott OâNeill, biólogo da Universidade de Queensland, na Austrália.
Cinco anos atrás, OâNeill recebeu US$7 milhões para tentar infectar mosquitos com um subgrupo da bactéria wolbachia _ que não matava mosquitos diretamente, mas causava sua morte antes que ficassem velhos.
A vantagem é que uma fêmea precisa ser de âmeia-idadeâ _ com cerca de 14 dias _ para poder pegar o vÃrus da dengue de um humano, vê-lo amadurecer em suas entranhas e então passá-lo a outro humano. Vivendo apenas o suficiente para uma refeição de sangue e colocar seus ovos, ela nunca transmite a dengue, mas a bactéria não sofre nenhuma pressão darwiniana para desaparecer da população de mosquitos.
O subgrupo da wolbachia com que ele começou matava os mosquitos rápido demais, disse OâNeill, mas ele encontrou outro que tinha um inesperado efeito colateral: por razões desconhecidas, ele bloqueava tanto o vÃrus da dengue quanto o da chikungunya, outra doença tropical.
âIsso mudou tudo para nósâ, explicou ele. âà como uma vacina para os mosquitos _ ela evita que eles peguem o vÃrusâ.
Em Cairns, na Austrália, que já sofreu repetidas epidemias de dengue, seu laboratório construiu gaiolas de malha fina com 20 metros de comprimento, encheu-as com mosquitos Aedes aegypti e introduziu a wolbachia, que se espalhou a todos eles. No Vietnã, ele deixou os mosquitos infectados se alimentarem do sangue de pessoas com dengue. âTivemos um bloqueio completoâ, disse ele. âNenhum sinal do vÃrus na salivaâ.
O próximo experimento, sendo iniciado agora, soltará mosquitos infectados pela wolbachia em Cairns para ver se eles infectam outros e desaceleram o problema da dengue.
Questionado se enfrentou qualquer oposição popular lá, ele respondeu: âNenhuma. As pessoas têm muito medo da dengue, e estão cansadas de ter inseticida borrifado em suas casasâ.
A Fundação Gates ainda está financiando seu trabalho, e atualmente o governo australiano também contribui, segundo ele. âE se os experimentos em campo forem bem-sucedidos, a preocupação com os financiamentos não me tirará o sonoâ.
Células-tronco para músculos
O projeto mais radical anunciado em 2005 foi o do Dr. David Baltimore, que dividiu um Nobel de medicina em 1975 e hoje leciona na Caltech. Baltimore imaginava remover, de seres humanos, células-tronco destinadas a ser glóbulos brancos, e infectá-las com um vÃrus de ação lenta. Esse vÃrus traria genes que reprogramariam seu mecanismo interno, produzindo anticorpos de duas cabeças _ que atacariam o HIV em dois pontos distintos.
âEssa abordagem original, de alto risco e alta recompensa, se mostrou difÃcil demaisâ, disse um documento da fundação descrevendo o histórico da bolsa. VÃrus de ação lenta trazem riscos de câncer, e colher medula óssea de africanos rurais ânão era algo verdadeiramente práticoâ, afirmou o Dr. Cristopher B. Wilson, diretor de descobertas globais de saúde da fundação.
Enquanto isso, outros cientistas clonaram novos anticorpos anti-HIV encontrados no sangue de pessoas infectadas, e a bolsa foi âreadaptadaâ com um objetivo diferente: injetar genes que codifiquem esses novos anticorpos em células musculares. A esperança é que isso possa se tornar uma forma mais simples de prevenção do que os atuais esforços de vacinas contra o HIV.