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TUBERCULOSE PREJUDICA LUTA CONTRA A AIDS
10/07/2008 - THE NEW YORK TIMESâ
A co-infecção TB/HIV
DISSEMINAÃÃO DA TUBERCULOSE PREJUDICA LUTA CONTRA A AIDS, DESTACA DIÃRIO NORTE-AMERICANO âTHE NEW YORK TIMESâ
A pouca atenção dispensada à disseminação da tuberculose está minando os ganhos recentes obtidos contra o vÃrus causador da Aids, informaram na segunda-feira (09/06) autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo estes especialistas da área médica, que falaram na primeira reunião das Nações Unidas para a discussão da interação entre estas doenças, atualmente a tuberculose e a Aids têm um caráter epidêmico em várias áreas do mundo, e as duas doenças infecciosas precisam ser combatidas juntas.
Os especialistas da ONU disseram que a tuberculose, uma doença transmitida pelo ar, é a mais importante complicação médica decorrente de infecção pelo HIV, o vÃrus causador da Aids. A tuberculose é também o maior causador de óbitos entre os indivÃduos infectados pelo HIV na Ãfrica, e uma das principais causadoras de mortes em outras regiões do mundo.
Jorge Sampaio, ex-presidente de Portugal que atua na ONU como enviado especial para o combate à tuberculose, afirmou que ele e o secretário-geral Ban Ki-moon organizaram a reunião na sede da ONU com o objetivo de angariar apoio polÃtico para "um problema bastante negligenciado". Além disso, disseram os especialistas das Nações Unidas, devido ao alastramento contÃnuo da tuberculose resistente a medicações, os profissionais da área de saúde relutam cada vez mais em cuidar dos pacientes infectados pelo HIV.
O médico Kevin M. DeCock, diretor do departamento de HIV da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma agência da ONU, afirmou que esses profissionais precisam aceitar o risco reduzido de adquirirem o HIV através de agulhas e sangue contaminados. "Porém, temos uma situação bem diferente quando se corre risco ao compartilhar o ar com pacientes portadores do HIV e que padecem de uma variedade de tuberculose resistente a drogas comuns e especiais ", acrescentou DeCock. "Isto pode modificar a forma como os profissionais da área de saúde encaram a questão dos cuidados dispensados aos pacientes com Aids".
Como a tuberculose é freqüentemente neglicenciada, as pessoas infectadas, mas que não apresentam sintomas, muitas vezes deixam de receber o medicamento, o isoniazid, que poderia ajudar a prevenir a evolução da doença.
"Pelo menos 700 mil casos de tuberculose surgem entre indivÃduos infectados pelo HIV a cada ano, e neste ano calcula-se que 230 mil pessoas infectadas morrerão de tuberculose. Este número inclui muitos que receberam drogas anti-retrovirais que podem conter o HIV, mas que não receberam os medicamentos que geralmente podem curar a tuberculose não resistente a essas drogas", afirmou o médico Mario C. Raviglione, diretor de controle da tuberculose da OMS.
Quase mil casos da forma de tuberculose mais resistente aos medicamentos foram detectados na Ãfrica do Sul. Casos adicionais foram identificados em diversos graus em outros paÃses. DeCock comparou a atual situação no sul do continente africano ao reconhecimento da tuberculose resistente a remédios na cidade de Nova York e em regiões da Flórida no final dos anos oitenta e inÃcio dos noventa.
Segundo DeCock, todas as formas de tuberculose podem ser transmitidas para qualquer um, portador do HIV ou não, e a doença pode se disseminar em âmbito local e regional, e também para regiões mais distantes por meio de viagens aéreas. Os perigos da transmissão da tuberculose resistente foram alvo de atenção generalizada na Conferência Internacional sobre a Aids de 2006, em Toronto. Lá, os pesquisadores anunciaram um surto recente da forma mais resistente da doença, que matou 52 dos 53 pacientes internados em um hospital rural na Ãfrica do Sul.
O tratamento da tuberculose resistente a drogas é caro e difÃcil. Alguns pacientes podem ser tratados com sucesso por meio de combinações de drogas, após diversos exames laboratoriais para identificar a bactéria causadora da infecção. Mas tais testes geralmente só encontram-se disponÃveis nos paÃses ricos.
Um problema especial é que, em 2006, no mundo inteiro, somente 12% dos pacientes com tuberculose passaram também por exames para determinar se havia a presença do HIV. Na Ãfrica este Ãndice foi de 22%. Mas Raviglione observou que há alguns sinais de progresso. Segundo ele, a porcentagem de tuberculosos que passaram por exame de HIV no Quênia subiu de 19% em 2004 para 70% em 2007. No Maláui este aumento foi de 25% em 2004 para 83% em 2007. Em Ruanda, neste mesmo perÃodo, o aumento foi mais drástico, passando de zero para 89%.
Raviglione e outros especialistas pedem o fortalecimento da infra-estrutura de saúde em vários paÃses para a detecção de casos adicionais. Ele também solicitou mais pesquisas, já que é difÃcil utilizar os instrumentos e drogas padrões nos paÃses pobres. Segundo os técnicos da ONU, um investimento de US$ 19 bilhões até 2014 poderia reduzir o número de óbitos em 80%.
Sampaio, o enviado especial da ONU, disse: "Esse 'pedido de ação' representa o próximo passo inevitável, caso queiramos de fato controlar essas duas epidemias. Se não fizermos tal coisa, a situação econômica, social e dos direitos humanos ficará muito pior do que é hoje".
Lawrence K. Altman
Fonte: UOL (tradução) / The New York Times