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COMBATE Ã AIDS NA ÃNDIA

07/06/2008 - EFE

Combate à aids na Ãndia ganha reforço de líderes religiosos

Os principais gurus da Índia, seguidos com devoção por dezenas de milhões de pessoas, prometeram unir forças contra a aids, incorporando em seus sermões informações preventivas e mensagens que ajuda a romper o estigma que envolve a doença.

Em um seminário realizado esta semana pela Fundação Arte de Viver, em conjunto com o Programa das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) e outras entidades, 70 líderes religiosos reunidos em Bangalore, no sul do país, se comprometeram a entrar na luta contra a aids.

"O estigma que envolve esta doença só poderá ser superado se os líderes religiosos falarem sobre ela abertamente. É uma tarefa da qual o governo e as ONGs não conseguem dar conta sozinhos", disse aos participantes do encontro o fundador da Arte de Viver, o grande Sri Sri Ravi Shankar.

Segundo um comunicado emitido ao fim do seminário, os mestres hindus se comprometeram a "incluir informações sobre o vírus HIV em seus discursos, rituais, festas e aulas, e também na formação dos futuros líderes religiosos".

Na Índia, milhões de pessoas, sejam de povoados pequenos ou de grandes cidades, seguem um guru, ao qual recorrem para aliviar seus males espirituais e também para serem curados de problemas físicos e de saúde.

"Há muitos mais líderes religiosos na Índia que os três milhões de chefes de assembléias locais. Se todos se unirem, a campanha contra a aids terá muito mais alcance", disse Oscar Fernandes, vice-ministro de Emprego da Índia, durante o encontro.

"Quando eles falam, o que dizem têm muito impacto. Nenhum governo, nenhuma ONG consegue impactar tanta gente com suas campanhas", disse à agência Efe a porta-voz da Arte de Viver Manta Kailkhura.

Para o mestre Agnivesh, presidente do conselho mundial do movimento social-religioso Arya Samaj e um dos mais importantes líderes hindus, a popularidade não é a única razão pela qual os gurus devem assumir uma responsabilidade na luta contra a aids, doença que já afeta 2,5 milhões de indianos.

"Os líderes religiosos são idôneos para esta tarefa. A mensagem faz parte dos valores espirituais", disse Agnivesh, que, em declarações à Efe, sugeriu a aplicação na Índia do "ABC contra a aids" difundido na África, que prega a abstinência ("Abstinence"), a fidelidade ("Be faithful") e o uso de preservativos ("Condoms").

Segundo o guru, os líderes religiosos devem colaborar no combate à aids porque foram os "responsáveis pela criação do tabu" que impede "que se fale de sexo com os jovens".

"Criamos um estigma contra as pessoas infectadas pelo HIV. Tachamos elas como imorais", lamentou, para, em seguida, acrescentar: "Devemos nós mesmos eliminar o estigma que criamos. Devemos ajudar estas pessoas, estender-lhes a mão, comer com elas, abraçá-las, tratá-las com amor e respeito".

Agnivesh, considerado um dos gurus mais "progressistas" da Índia, também recomendou o fim do silêncio que cerca a doença em uma "cultura repressiva" e conservadora como a indiana.

Falar da aids ajudará a evitar mais contaminações e fará com que os já doentes sejam aceitos por uma sociedade da qual eles atualmente se escondem, acrescentou o mestre.

O líder religioso chegou a propor que os clérigos que celebram casamentos, independentemente de sua religião, encorajem os noivos a fazerem um exame anti-HIV.

"Podemos promover essa prática prometendo-lhes privacidade. Na verdade, nós também deveríamos fazer o teste", acrescentou, lembrando que seus seguidores mantêm relações sexuais, até mesmo com pessoas do mesmo sexo, e que, por isso, o risco do contágio sempre existe.

A iniciativa lançada no seminário recebeu o apoio de grandes líderes hindus de estados de toda a Índia, os quais "se comprometeram a propagar a mensagem a outros representantes religiosos com os quais venham a se encontrar".

"É um tema sobre o qual todos têm receio de falar", disse à Efe Charu Garewal, outra porta-voz da Arte de Viver.

Mas "os líderes religiosos geralmente são pessoas tão iluminadas que nada é constrangedor para eles. Eles estão acima destas coisas. São as pessoas que vacilam ao ouvirem ou ao falarem disso", afirmou Garewal