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EPIDEMIA

24/09/2003 - JORNAL DO COMMERCIO (RJ)

Combate à Aids ainda é lento, diz Kofi Annan

secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse ontem que, apesar de haver mais dinheiro para o combate à Aids e os remédios estarem mais baratos, a doença continua avançando mais rápido do que os esforços para detê-la. Em discurso na sessão sobre Aids da Assembléia Geral da ONU para 136 líderes do mundo, inclusive o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, Annan afirmou que os estudos mostram um atraso considerável em relação às metas definidas há três anos.

"Não podemos alegar que outros desafios são mais importantes ou mais urgentes. Não podemos aceitar que 'outra coisa apareceu' e nos forçou a deixar a Aids de lado. Sempre haverá outra coisa", disse Kofi Annan. As metas de três anos atrás incluem ter 3 milhões de soropositivos em tratamento em países em desenvolvimento até 2005 e reverter a epidemia até 2015.

Apenas 300 mil pessoas em nações em desenvolvimento recebem medicamentos atualmente, enquanto as estimativas da ONU indicam que de 5 milhões a 6 milhões de pessoas já apresentem sintomas da Aids. O Brasil, único país desse grupo que provê tratamento aos portadores do vírus HIV, representa um terço do total. Na África Subsaariana, por exemplo, apenas 40 mil de 4,1 milhões de infectados recebem remédios.

Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), divulgado ontem, mostra que apenas 1% dos africanos que precisam de remédios contra a Aids os recebem dos governos. O relatório pede que as nações desenvolvidas reduzam os preços dos anti-retrovirais ou permitam que os países pobres importem genéricos.

Compromisso
O presidente da França, Jacques Chirac, vem tentando convencer a União Européia a doar US$ 1 bilhão por ano ao Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, desde que os Estados Unidos façam o mesmo. "Estamos comprometidos a garantir que três milhões de vítimas da Aids recebam tratamento até 2005", disse.

Peter Piot, diretor da UNAids, estima que haverá 45 milhões de novas infecções até 2010. Ele ressaltou o fato de o Brasil ter mantido o programa de distribuição de medicamentos mesmo sob pressão do FMI para cortar gastos. Piot também destacou que países pobres, como Camboja e Uganda, conseguiram reduzir o número de casos da doença.

Costa promete continuar luta por menores preços

O Brasil aprofundará a estratégia de tentar reduzir o preço dos medicamentos, como parte da luta contra a Aids, garantiu o ministro da Saúde, Humberto Costa, na assembléia da ONU. "Não hesitaremos em usar todos os métodos para conseguir uma queda dos preços e tornar os medicamentos essenciais mais acessíveis", disse.

"É apropriado destacar a importância de um acesso global ao tratamento e aos remédios. No passado, o homem enfrentou muitas epidemias contra as quais não existiam medicamentos. Não é o caso da Aids", explicou o minsitro. "No Brasil produzimos alguns anti-retrovirais e conseguimos, no passado, reduzir os preços dos remédios importados com negociações justas", acrescentou.

O Ministério da Saúde iniciou no mês de agosto uma nova rodada de negociações com os laboratórios Abbott, Roche e Merck Sharp & Dhome, para tentar reduzir os preços dos medicamentos Lopinavir, Nelfinavir e Efavirenz. No início deste mês, foi publicado um decreto que permite ao País importar ou produzir genéricos desses medicamentos, em caso de emergência.

Em abril de 2001, o Brasil conseguiu reduzir o valor desses três remédios em 60%. Agora o país deseja uma redução de 50% no preço atual.