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BEBÃS E HIV

12/09/2003 - O GLOBO

Tratamento simples pode reduzir contaminação de bebês pelo HIV

Estudo realizado com mais de 600 mulheres em Uganda demonstrou que um tratamento simples e relativamente barato reduz consideravelmente os riscos de transmissão do HIV de mães para seus bebês no momento do parto.
Publicado na última edição da revista médica inglesa "The Lancet", o estudo revela que ministrar uma única dose de nevirapina (droga comumente usada contra a Aids) à mãe na hora do parto e uma outra dose ao recém-nascido reduz as chances de transmissão em 41%, se comparado ao tratamento mais longo, com AZT, normalmente utilizado.
Aproximadamente 30 milhões de pessoas HIV positivas vivem na África, sendo que cerca de três milhões delas são mulheres grávidas.
— O uso de nevirapina, se implementado em larga escala, tem o potencial de prevenir centenas de milhares de novas infecções — afirmou Brooks Jackson, diretor de Patologia da Escola de Medicina da Johns Hopkins, que coordenou o estudo ao lado de Francis Mmiro, da Universidade de Makerere, em Kampala, Uganda. — Esse tratamento é extremamente simples, seguro e barato, mas os acessos aos testes de detecção do HIV e ao acompanhamento médico continuam representando um grande obstáculo.
O estudo revelou que recém-nascidos tratados com nevirapina ou AZT (drogas cujo efeito não é de longa duração) têm grandes chances de se infectar depois do parto, principalmente devido ao aleitamento. Ainda assim, os riscos são 41% menores entre os tratados com nevirapina, mesmo depois de um ano e meio.
Em todo o mundo, nascem a cada ano cerca de 800 mil bebês com HIV, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A maioria desses bebês vive em países pobres, onde o tratamento anti-HIV não é oferecido às mulheres grávidas e as alternativas ao aleitamento materno são escassas.
— O estudo mostra que as doses únicas de nevirapina são mais eficazes do que o tratamento com AZT tanto para prevenir a transmissão do vírus na hora do parto quanto nas semanas subseqüentes — afirmou Jackson.
Não foram detectadas reações adversas
Segundo os pesquisadores, nenhuma reação adversa séria à droga foi notada no estudo. A nevirapina, quando usada em tratamentos a longo prazo e em doses mais altas, pode apresentar efeitos colaterais perigosos, como problemas no fígado. Mas os especialistas acreditam que o tratamento preventivo de uma única dose é, potencialmente, muito menos arriscado.
No estudo, 308 mulheres e seus bebês receberam AZT, enquanto um outro grupo, formado por 311 mães e recém-nascidos, tomou nevirapina. Dezoito meses depois, 75 bebês do grupo que recebeu AZT testaram positivo para o HIV, contra 47 no grupo que tomou nevirapina. Novos resultados serão divulgados quando as crianças tiverem 5 anos de idade.