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ÃFRICA DO SUL TERÃ TERAPIA CONTRA AIDS

10/08/2003 - Folha de São Paulo

Governo Mbeki anuncia plano para distribuir remédios anti-retrovi

Portadores do vírus HIV, pacientes de Aids e ativistas comemoraram o anúncio feito pelo governo da África do Sul de que desenvolverá um plano para oferecer gratuitamente remédios anti-retrovirais, mas criticaram a demora para a tomada da decisão.
Na sexta-feira, o governo do presidente Thabo Mbeki anunciou que iniciará os preparativos para, até o final de setembro, começar a distribuir gratuitamente os remédios que prolongam a vida de portadores de HIV/ Aids.
"O governo divide a impaciência de tantos sul-africanos quanto à necessidade de fortalecer nossos recursos na luta contra a Aids", anunciou o governo. Mas as autoridades estimam que serão necessários até nove meses para que os remédios cheguem aos cerca de 500 mil sul-africanos que precisam deles com mais urgência.
O Ministério da Saúde calcula que gastará entre US$ 2,3 bilhões e US$ 2,8 bilhões por ano para oferecer o tratamento a todos os que necessitarem. Mas 1,7 milhão de mortes poderão ser evitadas nos próximos anos.
"Saudamos a importante decisão, mas lembramos a angústia, a dor e a perda desnecessária de vidas ocorrida nos últimos quatro anos", afirmou o grupo Ação pelo Tratamento, que desde 1998 pressiona o governo a fornecer tratamento gratuito contra a Aids.
A África do Sul, com 42 milhões de habitantes, tem 4,7 milhões de soropositivos e doentes de Aids. Embora não seja o país com o maior percentual de infectados, é o que tem o maior número de portadores do vírus no mundo.
Até agora, o governo negava-se a distribuir os medicamentos gratuitamente sob a alegação de que não tinha recursos suficientes e de que necessitava desenvolver condições no serviço público de saúde para oferecer o tratamento de forma eficaz. Também questionava os efeitos colaterais causados pelo tratamento anti-retroviral.
Atualmente, a África do Sul oferece tratamento gratuito apenas para evitar que mães contaminem os fetos durante a gravidez. Também há alguns programas limitados financiados por recursos externos. O resto da população infectada só tem acesso aos remédios se pagar por eles ou por meio de serviços privados.
Mbeki é frequentemente acusado de ter questionado a ligação entre o HIV e a Aids. Ele nega ter feito declarações nesse sentido.
"A doença é adquirida por meio de um vírus, mas más condições de saúde contribuem para a destruição do sistema imunológico. Há a questão da nutrição, da água potável, da moradia. É preciso lutar contra a pobreza", disse Mbeki à rede britânica ITV.
O tratamento anti-retroviral não cura os pacientes de Aids nem reverte a infecção pelo HIV (o vírus que causa a Aids), mas impede que o vírus se reproduza descontroladamente e destrua o sistema imunológico (de defesa do organismo), possibilitando uma vida mais longa e de melhor qualidade.

Mortes no Brasil caem 50%

O Brasil oferece tratamento gratuito contra a Aids desde 1996 e, de lá para cá, houve redução de 50% na ocorrência de mortes e de 80% no aparecimento de infecções oportunistas (que surgem com a falência do sistema imunológico). A média de internações hospitalares caiu de 1,65 por paciente em 1996 para 0,28 por paciente em 2001.
Cerca de 120 mil portadores recebem tratamento gratuito. Os gastos anuais com a Aids no Brasil são de cerca de US$ 550 milhões, mas houve economia com a redução das internações.