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COMBATE A AIDS NA ÃFRICA DO SUL
07/09/2006 - Folha de São Paulo
Cientistas pedem saÃda de ministra que receita beterraba
Carta ao presidente sul-africano considera "imoral" sua polÃtica contra a doença
Mais de 80 cientistas e acadêmicos, de diversos paÃses, condenaram a polÃtica da Ãfrica do Sul contra a Aids, classificando-a de imoral e ineficaz, e pediram a demissão da sua ministra da Saúde, numa carta enviada ao presidente Thabo Mbeki, divulgada ontem.
Os especialistas afirmam que a permanência de Manto Tshabalala-Msimang no cargo é "embaraçosa" para o paÃs. Entre os signatários do texto estão o ganhador do Nobel David Baltimore e Robert Gallo, um dos descobridores do vÃrus HIV. Eles pedem "a saÃda imediata da dra. Tshabalala-Msimang do Ministério da Saúde e o fim das polÃticas desastrosas e pseudocientÃficas que têm caracterizado a resposta do governo da Ãfrica do Sul ao HIV/Aids".
A ministra é conhecida como "dra. beterraba", por defender a ingestão do legume, alho e limão contra o vÃrus. O presidente também é acusado de minimizar o impacto da doença no paÃs -ele já deu declarações pondo em dúvida a relação entre o HIV e a Aids e questionando a eficácia dos remédios anti-retrovirais.
"Negar que o HIV cause a Aids é absurdo diante das evidências cientÃficas; promover polÃticas ineficazes e imorais contra o HIV/Aids põe vidas em risco; ter como ministra da Saúde uma pessoa que não tem o respeito internacional é um embaraço ao governo sul-africano", afirma o texto dos especialistas. Eles se dizem extremamente preocupados com a proliferação de tratamentos sem comprovação cientÃfica, com a anuência da ministra.
O próprio governo sul-africano estima que mais de 5,5 milhões de pessoas sejam portadoras do vÃrus no paÃs, número só superado pela Ãndia. Cerca de 900 sul-africanos morrem por dia devido à Aids.
O governo não comentou a carta dos especialistas, mas recentemente defendeu a ministra, dizendo que eram divulgadas informações falsas sobre o tratamento da doença no paÃs. Tshabalala-Msimang, em entrevista recente, ridicularizou crÃticas anteriores feitas a ela. "Minha demissão? Não pensei sobre isso e não vou pensar."
A receita prescrita pela ministra contra a Aids já havia causado protestos na Conferência Internacional sobre a Aids, no mês passado, em Toronto. Mais de 130 representantes da Ãfrica do Sul no encontro pediram asilo ao governo canadense, dizendo que a polÃtica do seu paÃs contra a Aids punha suas vidas em risco
O governo da Ãfrica do Sul, que só passou a distribuir medicamentos contra a doença após ativistas irem à Justiça, em 2002, afirma que seu programa anti-Aids é o maior do mundo. Ele estima tratar mais de 140 mil pessoas com remédios anti-retrovirais, mas os especialistas calculam que mais de 500 mil sul-africanos têm necessidade imediata dos medicamentos para sobreviver.