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NOVA BLITZ NO EMÃLIO RIBAS EM SP

27/04/2004 - Agência Aids

Faltam toalhas, remédios, papel higiênico

As crianças que ficam internadas no setor de pediatria do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, SP, estão sem insumos básicos de higiene como toalha, sabonete e papel higiênico. “Hoje de manhã eu tive que me enxugar com o lençol da cama, porque não tinha toalha”, comenta uma menina com cerca de 10 anos de idade, internada no quarto 210. Quando vai ao banheiro, esta mesma garota usa o papel toalha, daqueles bem ásperos, como papel higiênico. Uma mãe que acompanha seu filho, com menos de um ano de idade e recém saído de uma meningite, teve que usar a toalha de casa para dar banho nele. No hospital não havia. Em seu quarto há papel higiênico, mas sabonete não.
As cadeiras dos acompanhantes estão em estado deplorável, todas rasgadas e com a espuma aparecendo. Os banheiros dos corredores desse mesmo andar, também não têm sabonete e papel higiênico. Vale lembrar que mãos limpas podem evitar infecção dentro de hospitais.
A direção do Instituto de Infectologia Emílio Ribas recebeu na tarde desta terça-feira, 27 de abril, a visita do Padre Júlio Lancellotti, responsável pela Casa Vida, do Dr. Vidal Serrano, Promotor da Infância e Juventude do Ministério Público Estadual e de advogados do Centro de Defesa da Criança e Adolescente, ligados a Pastoral do Menor. A visita foi motivada após a constatação de que alguns serviços do hospital não estavam funcionando. Há duas semanas o Padre Júlio teve que levar uma das meninas da Casa Vida para fazer uma tomografia, mas o aparelho estava quebrado. Como o caso era urgente, ela foi levada de ambulância para outro hospital e a sirene não funcionou. Como a criança teve que ficar internada, o Padre Júlio percebeu que os problemas não eram apenas o tomógrafo e a ambulância, mas também a falta de insumos básicos de higiene.
O Diretor do Instituto, o médico Sebastião André De Fellicci, recebeu a comitiva e se disse surpreso com as reclamações. Ele reafirmou que o tomógrafo era novo e não apresentava nenhum problema, e que nem todas as ambulâncias necessitam de sirene. Quanto à falta de insumos o Dr. De Fellicci afirmou que não havia recebido nenhuma reclamação e chamou os responsáveis por essas áreas para que explicassem o que estava acontecendo. Munido de pastas e documentos, o encarregado do almoxarifado afirmou que o estoque de papel higiênico e papel toalha está cheio e que têm insumos para até cinco meses. A pessoa da área de distribuição desses materiais de higiene mostrou sua planilha de controle na qual seria impossível estar faltando esse material em qualquer área do hospital.
Após quase duas horas de discussão intensa, a comitiva foi visitar o hospital para ver a realidade do dia-a-dia dos usuários. Nesse momento, quem acompanhou a inspeção foi o diretor adjunto da Instituição, Dr. Antônio Abi Jaudi. Ele pôde ver as denúncias do Padre Júlio eram verdadeiras. Ele ouviu a menina do quarto 210 falar que se enxugou com lençol. Antes de descer para ver o equipamento de tomografia, o diretor adjunto comentou que ele também já teve que se enxugar com lençol, como uma justificativa para a ausência de toalhas. O Dr. Abi Jaudi também presenciou o Dr. Silas Pereira Barbosa Júnior, responsável pelo tomógrafo, afirmar que o equipamento está com problemas técnicos e que seu funcionamento é intermitente, ao contrário da afirmação do Sr. De Fellicci. Segundo o Dr. Silas o tomógrafo é novo e um dos mais avançados do país, mas está com problemas de ajuste.
A comitiva visitou também a farmácia e setor de exames da instituição. Lá, os medicamentos hidrocortizona e o Emozec estão em falta, segundo a responsável do setor. Atualmente a farmácia tem uma verba de R$ 4 mil para compras emergenciais, o que não é suficiente. “Eu tive que fazer uma compra emergencial de hidrocortizona e só comprei 10% do consumo mensal, porque caso contrário, iria gastar toda minha verba extra em apenas um medicamento. Eu precisaria de pelo menos R$ 10 mil reais para poder realizar todas as compras”, comenta a encarregada do setor. Outro problema da farmácia é a falta de espaço. Os medicamentos ficam amontoados nos corredores porque não há lugar para guardar. Segundo o Dr. Abi Jaudi, a direção já encaminhou um projeto de reforma para o local e que está esperando uma resposta da Secretaria de Estado da Saúde. No setor de exames, aparentemente não está faltando nada.
O Promotor da Infância e Juventude do Ministério Público Estadual, Vidal Serrano, disse, após a visita ao hospital, que vai pedir uma verificação técnica para o Conselho Regional de Medicina e Conselho Regional de Farmácia, para que esses órgãos façam uma avaliação das condições do hospital. Outro fato que será investigado é a ausência de uma escola no Emílio Ribas, conforme um acordo firmado com a Secretaria Estadual da Educação. Segundo o promotor, o Instituto já deveria ter um estabelecimento de ensino funcionando.
Para o Padre Julio Lancellotti é preciso um controle constante dos materiais do Instituto. “Fica evidente que apesar do controle da direção, os insumos não chegam aos pacientes. E quem sofre com isso são as crianças e todos os usuários do Instituto”.

A Nova Diretoria
O Instituto de Infectologia Emílio Ribas passou recentemente por uma crise administrativa. Em outubro de 2003, o jornal SPTV da Rede Globo veiculou uma série de denúncias envolvendo o Hospital, fato que acarretou na mudança da diretoria. O Dr. Vasco Carvalho Pedroso de Lima, então diretor da Instituição, deixou o cargo. Em seu lugar assumiu o Dr. André De Fellicci, que passou por diversas áreas da saúde ao longo de mais de 30 anos de trabalho. Segundo o diretor do Emílio Ribas, em sete meses de gestão o que eles estão fazendo é administrar o caos. “Estamos saindo de uma situação de menos 20 e estamos chegando a zero”, afirma De Fellici, sobre a situação financeira do Hospital. “O dinheiro público tem que ser muito bem administrado. Analisamos meticulosamente cada centavo que temos que gastar”, garante o atual diretor do hospital. Segundo o diretor adjunto Antônio Abi Jaudi, a Instituição está passando por um boicote por parte dos funcionários. “Estou neste posto há sete meses e eu nunca vi tanta gente remando contra”. Para os usuários não interessa saber se a afirmação do diretor adjunto é verdadeira ou não, o que importa é a qualidade do atendimento, independente dos problemas da diretoria.