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AIDS: UM QUESTÃO GLOBALIZADA

19/12/2003 - El País (Espanha)

A principal causa de morte abaixo dos 60 anos no mundo

A radiografia sobre o estado da saúde no mundo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou ontem é um mapa de injustiças. Enquanto as doenças infecciosas ocupam os títulos, com a Aids como principal causa da morte das pessoas menores de 60 anos, três "epidemias emergentes" - as doenças cardiovasculares, as derivadas do tabaco e os acidentes de trânsito - preparam-se para tomar a dianteira. A OMS adverte que os avanços em prevenção e tratamentos deixaram para trás um grupo de países nos quais a situação é pior que há 25 anos.

O Relatório sobre a Saúde Mundial de 2003 da OMS faz um balanço do último quarto de século em termos de saúde, desde a declaração de Alma Ata de 1978, que propunha o acesso universal aos tratamentos. Diante de avanços na maioria dos indicadores dos países (maior expectativa de vida, menor mortalidade infantil), existe um grupo, sobretudo de africanos, nos quais as condições são piores que 25 anos atrás.

A causa imediata é a infecção pelo vírus HIV, que causa a Aids, e que no ano passado fez mais de 2,2 milhões de mortos entre pessoas com idades entre 15 e 59 anos, sem contar a parte das mortes devidas à tuberculose (mais de 1 milhão), que se propaga estimulada pela imunodeficiência. Mas sem despertar tanta preocupação três epidemias evitáveis avançam: a cardiopatia isquêmica (7,2 milhões de adultos mortos), as doenças relacionadas ao tabagismo (mais de 10 milhões entre doença pulmonar obstrutiva crônica, infecções respiratórias e câncer de traquéia, brônquios e pulmões) e os acidentes de trânsito (900 mil mortos), que representam uma ameaça extra para os países pobres, que é onde mais avançam. Outros aspectos que a OMS destaca em seu informe, que pode ser consultado em www.who.int/whr/2003, são expostos abaixo:


Desigualdade - A OMS ilustra com um exemplo: uma menina que nasça este ano em Serra Leoa tem uma expectativa de vida de 36 anos, quase 20 a menos que o previsto há uma década. A expectativa para uma japonesa que venha ao mundo na mesma hora do mesmo dia será mais que o dobro: 85 anos (uma espanhola, cerca de 83). A serra-leonesa gastará US$ 3 por ano em medicamentos; a japonesa, US$ 500, e morrerá depois de uma doença crônica "para a qual receberá tratamento adequado".


Mortalidade infantil - Por hora, 500 mães africanas perdem um filho menor de 5 anos. Do total de mortes anuais (cerca de 57 milhões em 2002), quase a quinta parte, mais de 10 milhões, serão crianças com menos de 15 anos. Praticamente todas (98%) morrerão num país em desenvolvimento. Apesar do número terrível, a situação melhorou: em 1980 morriam 17 milhões, segundo a OMS. Com uma exceção: em dez países africanos a mortalidade infantil aumentou na última década.


Erradicação da pólio - As crianças que nascerem na Nigéria, Níger, Egito, Somália, Sudão, Afeganistão e Paquistão enfrentarão outra ameaça: o vírus da poliomielite. Em 1988 houve 350 mil casos no mundo; em 2003, cerca de 1.900. O fim da epidemia está perto, mas surgem novos problemas, adverte a OMS. O último são os empecilhos colocados por alguns líderes muçulmanos às campanhas de vacinação no norte da Nigéria. A OMS espera erradicar a doença do Sudeste Asiático em 2005.


Novas doenças - A OMS detectou o aparecimento de uma nova doença por ano durante as duas últimas décadas. A estrela de 2003 foi a pneumonia asiática (Sars na sigla inglesa), com 800 casos e 90 mortos em todo o mundo. A doença não é importante por seu risco (embora sua mortalidade seja de 11% e se acredite que possa reaparecer neste inverno), mas porque mostra a rapidez com que uma nova infecção pode se estender e a necessidade de contar com um sistema de vigilância coordenado e transparente, afirma a OMS.


Aids - Muito mais mortal que a Sars, a Aids é a nova doença que mais preocupa as autoridades. Seu impacto na África e na Ásia é devastador, e é o melhor exemplo da desigualdade entre os ricos e os pobres mais pobres, indica a OMS. Os progressos da medicação permitiram que muitos doentes de países ricos tenham uma vida quase normal, mas são a minoria. Os outros 95% estão condenados.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves