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AUMENTO DE INTERNAÃÃES POR OPORTUNISTAS

16/12/2003 - Tribuna da Imprensa

Cresce o abandono do tratamento contra a Aids

BRASÍLIA - O aumento do número de pacientes internados com infecções oportunistas tem preocupado profissionais e organizações que lidam com a Aids em vários países do mundo, pois a grande incidência deste tipo de internação indica o abandono cada vez maior do tratamento com o coquetel anti-retroviral. Atualmente, este tratamento faz com que aqueles que detectam mais cedo a presença do vírus HIV, em muitos casos, não desenvolvam a síndrome da imunodeficiência adquirida, a Aids. Assim, apenas convivem com a presença do vírus controlada no organismo, sem implicações sérias no sistema imunológico.

Mesmo no caso de pacientes que chegaram a baixa porcentagem no sangue de células de defesa que caracterizam a Aids, o tratamento contínuo com o coquetel anti-retroviral estabiliza e, muitas vezes, até faz com que aumente a resistência do paciente, o que vem tornando já a algum tempo a Aids uma doença crônica, e não mortal. Porém, todas estas conquistas não podem ser obtidas pelos portadores de HIV sem uma adesão completa ao tratamento, o que vem acontecendo principalmente nos países onde o acesso à assistência médica e aos remédios é maior.

As causas para o abandono do tratamento vão das razões pessoais às restrições socioeconômicas. O bem-estar que se sente após passar por um certo período com doses do coquetel medicamentoso é uma destas. A dificuldade de se apresentar a si e a outros como soropositivo, devido à vergonha e ao preconceito, prejudica seriamente a operacionalização do tratamento, visto que o paciente se sente inibido em tomar os remédios estipulados com medo de ter descoberto seu segredo, seja na família ou no trabalho. Temem ainda os efeitos colaterais, tanto por serem denunciadores como por um suposto incômodo. Sendo assim, quanto mais oculto estiver seu estado, menor apoio pode receber para dar continuidade ao tratamento.

Em países como o Brasil, onde a patente dos medicamentos usados no tratamento da Aids foi quebrada pelo Ministério da Saúde que, com reconhecimento internacional, tem procurado garantir aos soropositivos do País acesso ao atendimento e ao coquetel anti-retroviral, todos estes avanços se perdem por conta da pobreza. Por incrível que pareça, a saúde trazida pelo tratamento impede seu prosseguimento, porque muitos afirmam que as doses do coquetel aumentaram um apetite que simplesmente não podem suprir. Moradores de zonas rurais ou de lugares distantes do hospital onde se consultam confrontam-se muitas vezes com o dilema de pagar o transporte para continuar o tratamento ou fazer a refeição do dia.