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A COMPLEMENTAÇÃO DO TRATAMENTO

16/12/2003 - O POVO - CE

MS não oferece remédio contra efeitos colaterais

O acúmulo de gordura ou a falta em algumas partes do corpo é uma queixa freqüente entre os portadores do vírus HIV em tratamento com medicamentos antiretrovirais. Segundo diretor clínico do Hospital São José, por enquanto, correção do problema estético ainda não é oferecido pelo sistema de saúde público

Maria Clara (nome fictício), 45, descobriu que estava com Aids em 1999. Além do preconceito que os portadores da doença enfrentam, ela observa que o efeito colateral de alguns medicamentos antiretrovirais (droga usada no tratamento do vírus HIV), modifica o aspecto físico dos pacientes causando perda de massa muscular no rosto e nas pernas e acúmulo de gordura no abdómem e pescoço, por exemplo. ''A gente fica horrível e isso incomoda''. Ministério da Saúde (MS) vai iniciar no próximo mês estudo com 200 pacientes do Rio de Janeiro e de São Paulo sobre o benefício do Meta-Acrilato no preenchimento facial.

O caso de Maria Clara é apenas um exemplo. A lipodistrofia (atrofia ou hipertrofia do tecido adiposo) causada por algumas drogas inibidoras de proteases é uma queixa freqüente entre os pacientes que tomam a medicação por tempo prolongado. Cada paciente toma pelo menos três remédios desse tipo (composição do coquetel).

Érico Arruda, diretor clínico do Hospital São José (HSJ), diz que a questão é estética, mas pode estar relacionada ao aumento de gorduras no sangue. ''O problema pode ser um fator a mais que pode desestimular o tratamento com os antiretrovirais quando este for indicado''. Além dos efeitos colaterais causados pelos remédios, entre eles, a Estavutina, a atrofia ou hipertrofia do tecido adiposo também pode ter como causa a própria doença.

No HSJ, 1,8 mil pacientes estão em tratamento da Aids. Érico Arruda observa que nem todos que fazem uso da medicação desenvolveram lipodistrofia. Por isso, não sabe precisar quantos sofrem do problema que pode se manifestar pela falta de tecido adiposo no rosto, pernas e/ou gorduras na região cervical (no pescoço) e no abdómem. A pessoa pode apresentar as duas formas ao mesmo tempo.

Segundo Érico, por enquanto, estão sendo utilizados recursos como o preenchimento facial e a lipoaspiração do local que tem gordura em excesso para outra parte que falta. Mas não são oferecidos no sistema de saúde público. Maria Clara, por exemplo, fez o preenchimento facial e resolveu o acúmulo de gordura no abdómem com dieta e atividade física. Para melhorar o aspecto das pernas, fará exercícios na bicicleta ergométrica. A atividade física ajuda, mas não é definitivo.

O Ministério da Saúde (MS), que fornece, de forma gratuita, a medicação para o tratamento dos portadores de Aids, vai iniciar no próximo mês um estudo para avaliar os benefícios do Meta-Acrilato no tratamento de preenchimento facial. Duzentos pacientes do Rio de Janeiro e de São Paulo testarão a substância. Dependendo do resultado, é que será definido se será expandido para todo o País. Em 2003, a estimativa do MS é que existam cerca de 600 mil pessoas convivendo com o vírus, sendo que entre 300 e 400 mil não sabem de sua condição de portador.

O diretor clínico do HSJ diz que o importante é a introdução de medicamentos com menos efeitos. Segundo ele, o MS já está com duas novas drogas que a princípio parecem diminuir o risco de desenvolver a lipodistrofia, que são a Tenofovir e Atazanavir. ''Mas nada garante que depois do uso prolongado não venha causar o mesmo problema''.

SAIBA MAIS

- A Lipodistrofia se caracteriza pela atrofia ou hipertrofia do tecido adiposo. O problema pode levar a atrofia no rosto, pernas e nádegas, por exemplo, como ao excesso de gordura na região cervical (pescoço) e no abdómem. A pessoa pode ter a duas formas.

- O problema é causado pelos remédios usados no tratamento da Aids, que estão na composição do coquetel (três drogas). Entre eles a Estavudina.

- Por enquanto, é corrigido com o preenchimento facial e lipoaspiração, retirando a gordura em excesso para um local que está faltando. Os dois procedimentos não são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde

- Nem todos os pacientes em uso dos antiretrovirais desenvolvem a lipodistrofia

Fonte: infectologista Érico Arruda, diretor clínico do Hospital São José (HSJ)