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AIDS E ALTERAÃÃES DA COMPOSIÃÃO CORPORAL

03/12/2003 - www.mixbrasil.uol.com.br/

As conseqüências do uso do coquetel e suas soluções estéticas

As alterações da Composição Corporal em pacientes com AIDS ou soropositivos para o HIV devem-se basicamente a alterações endocrinológicas relacionadas à ação direta do vírus principalmente nos sistemas endocrinológico e imunológico, e a ações indiretas da doença (secundárias à invasão por agentes infeciosos oportunistas, neoplasias, ação de citocinas e farmacotoxicidade).
As alterações na Composição Corporal são principalmente decorrentes de alterações no equilíbrio hormonal , sendo os mais importantes o Hipogonadismo, a Lipodistrofia e a Síndrome Consuntiva.
1-Hipogonadismo
O hipogonadismo talvez seja a manifestação endocrinológica mais freqüente , chegando a ocorrer em até 50% dos homens com AIDS.
Manifesta-se clinicamente por diminuição da libido, impotência progressiva e alterações na composição corporal, com diminuição da massa magra. Excepcionalmente podem ocorrer alterações relacionadas à alterações do eixo hipotálamo-hipofisofário.
A reposição com derivados de testoterona está indicada para os pacientes com deficiências hormonais documentadas laboratorialmente, devendo haver correlação clínico laboratorial.
O tratamento medicamentoso, em geral se associa com retorno da libido e da potência, assim como o ganho da massa muscular, devendo ser monitorizada a função hepática, devido ao risco de hepatite medicamentosa.
Ellis e cols citam há uma grande correlação entre alterações da composição corporal como perda de massa magra e muscular, associada a deterioração da capacidade funcional durante o exercício, e que estes dados estão fortemente relacionados aos níveis séricos de androgênios em homens hipogonádicos com Sídrome Consuntiva (ver adiante). E que nestes casos a reposição de testoterona tem um efeito positivo significante no estímulo da secreção de GH, e do eixo GH- IGF-I.

2-Lipodistrofia
Desde 1997, foram descritas alterações na aparência física decorrentes da redistribuição da gordura corporal, de pacientes em uso de inibidores de protease, que foram agrupadas sob a denominação genérica de lipodistrofia.
A denominação de liposdistrofia engloba tanto as alterações relacionadas a lipoatrofia como as relacionadas as de lipohipertrofia.

Lipohipertrofia
As alterações relacionadas à lipohipertrofia incluem aumento da Circunferência Abdominal Média , aumento da gordura mamária e acúmulo de gordura na região dorsocervical (giba ou buffalo hump).
Incluem-se aqui também as lipomatoses simétricas. As de lipoatrofia podem incluir perda de tecido adiposo.

Lipoatrofia
Incluem perda de tecido adiposo e subcutâneo na região glútea, braços e pernas, acompanhado de pronunciado acentuação do desenho vascular em membros superiores e inferiores, diminuição do coxim de gordura temporal e afinamento da face com surgimento de dupla prega nasolabial.

Não há necessariamente alterações laboratoriais associadas.

Dentro as alterações laboratoriais associadas encontram-se hipercolesterolemia, hiperglicidemia, intolerância à glicose e hiperglicemia.
A falta de uma definição precisa e universalmente aceita impede que se compare a freqüência de lipodistrofia relatada por diversos autores, além de dificultar estudos sobre sua patogenia.

As alterações encontradas nos pacientes que fazem uso de inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos provavelmente se dê às custas de danos mitocondriais, e geralmente apresentam-se relacionados à presença de esteatose hepática associada.
Ocorrem nestes casos uma menor incidência de alterações laboratoriais do lipidograma, mas um maior risco de desenvolvimento de acidose lática.

Há ainda casos descritos de lipodistrofia em pacientes que nunca fizeram uso de terapias anti-retrovirais.

Uso de Inibidores de Proteases
Alguns estudos demonstram que até 60% dos pacientes em uso de inibidores de protease, por mais de um ano apresentam , pelo menos, uma alteração física compatível com a definição de lipodistrofia.
Esta alteração geralmente vem precedida de aumento sérico dos níveis de lipoproteínas, especialmente os triglicerídeos.
Apesar dos aumentos dos níveis de triglicerídeos não ser incomum, o aparecimento de pancreatite associada não parece ser comum.
A possível correlação entre hiperlipidemia e coronariopatia ainda está por ser estabelecida, apesar de vários estudos realizados, e em andamento, demonstrarem evidências de relação positiva entre eles.
Fatores associados como a história prévia e/ou familiar, de doenças cardiovasculares, o tabagismo, a obesidade e outros fatores de risco, devem sempre ser levados em conta, e parecem influenciar de forma positiva para o aparecimento de patologias associadas.

TRATAMENTO
Outro fator a ser avaliado é a magnitude das alterações lipídicas, o que irá estabelecer os critérios para a iniciação da utilização de terapias medicamentosas, para o controle dos níveis de colesterol e triglicérides.
Geralmente se indica intervenção medicamentosa quando os níveis de triglicerídeos se encontram acima de 750 mg/dL, e ou com níveis de colesterol LDL acima de 130 mg/dL , especialmente se há outros fatores de risco associados ou presença de doença coronariana prévia.
Sabe-se, no entanto que a dieta assim como a prática de atividades físicas que representem gasto calórico >= a 1500kcal/ semana têm papel decisivo na manutenção de níveis séricos aceitáveis das lipoproteínas.

Apesar da lipodistrofia ser muito mais comum em pacientes em uso de inibidores da protease, ela pode ocorrer também em pacientes que estejam utilizando outros tipos de anti-virais, como por exemplo a estavudina e a nevirarapina.
É provável que os mecanismos responsáveis pelas alterações da distribuição de gordura corporal, levando às alterações da composição corporal , sejam diferentes nos pacientes que fazem uso dos inibidores de protease e naqueles que não façam , e nem o tenham feito.
O papel de drogas como o genfibrozil e a niacina ainda não tem consenso a respeito de seu papel na redução das lipoproteínas.

A mensuração das lipoproteínas séricas deve ser realizada antes do início da terapia anti-retroviral, e a cada 3 ou 4 meses após seu início.

NOVAS PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS
Alguns estudos vem sendo realizados de forma a se empregar novos medicamentos nas alterações relacionadas à composição corporal, e às alterações dos níveis séricos de lipoproteínas .

Metformina e Somatomedina.(GH)
Dentre os estudos realizados, há evidências de que a metformina e outras drogas como a somatrofina (hormônio do crescimento), reduzam o acúmulo de gordura abdominal, e a giba.
Em relação ao hormônio do crescimento, sabe-se ainda que há melhora em parâmetros como acúmulo de massa óssea, aumento de massa magra e melhora das condições de qualidade de vida.
As atividades físicas de hipertrofia muscular parecem estar associadas à melhora da lipoatrofia.

Hormônios anabolizantes
O uso de esteróides anabolizantes , em especial o cipionato de testoterona (200 mg, IM, a cada 2 a 3 semanas) e o decanoato de nandrolona (50mg, IM, a cada 2 a 3 semanas), associado aos exercícios físicos e a uma dieta hipertroteíca, podem ser estratégias para se minorar as alterações físicas.
Alguns estudos demonstraram ganho de pesos com o uso de glutamina, via oral, a posologia das doses ainda está em avaliação.


SÍNDROME CONSUNTIVA
Antes do início da terapia anti-retroviral potente, a Síndrome Consuntiva ( wasting syndrome), era comum das fases avançadas da infecção pelo HIV.
Mas mesmo depois do advento da utilização de novas drogas, casos isolados de perda desproporcional de massa corporal ainda são relatados.
Um outro aspecto de atenção aqui é que o fato, do aumento de peso pode não estar associado necessariamente a aumentos de ganhos da massa muscular.
A Síndrome Consuntiva está associada a diversas alterações psicológicas como a depressão e às relacionadas à deterioração da autoimagem, além do fato de levar à diminuição da capacidade de se exercer atividades da vida diária e a uma maior mortalidade.
É uma situação dramática e avassaladora tanto nas condições físicas como psicológicas dos indivíduos.
A fisiopatogenia da Síndrome Consuntiva é ainda parcialmente desconhecida, mas sabe-se que está relacionada a fatores como má absorção , redução de aporte calórico,e aumento do catabolismo.
Há dados sugestivos de que efeitos na síntese de proteínas musculares também ocorram. A diminuição dos níveis de hormônios anabolizantes endógenos, como a testoterona, é comum em pacientes com infecção pelo HIV, com mecanismos e clínica semelhantes aos relacionados nos casos de hipogonadismo masculino.
A deficiência androgênica é igualmente é comum também em mulheres com infecção por HIV.
Há dados que indicam defeitos relacionados à síntese de proteínas musculares, e nos valores da IGF-I e das IGFB.
Um trabalho realizado na Universidade de La Jolla, EUA(DARKO e cols) demonstrou que indivíduos com AIDS, ou soropositivos para o HIV apresentam alterações relacionadas com a deterioração do controle do sono, sendo que um dos fatores que parece estar relacionado a essa alteração seja a desregulação de produção de GH.
Outro trabalho realizado na Universidade de Nova Iorque (MYNARCIC e cols) demonstrou que pacientes com AIDS, sem a presença infecções secundárias , respondem à administração de GH com aumento significante da produção hepática de IGF-I. O estudo igualmente demonstrou que pacientes com AIDS apresentam tanto elevações séricas dos níveis de IGFBPs , e alterações metabólicas importantes , como a Síndrome Consuntiva, proporcionalmente à severidade da doença.

Terapia com Hormônio do Crescimento
Mulliigann e cols, citam que o tratamento com Hormônio do Crescimento Recombinante (rhGH), em paciente com Síndrome Consuntiva e AIDS, apresentam maior sustentabilidade do peso corporal e manutenção ou aumento da massa corporal magra, associado a um decréscimo da massa gorda.
Os resultados de um trabalho realizado por este grupo , demonstrou que o tratamento com rhGH, demonstrou um aumento em parâmetros como peso corporal e massa magra corporal sustentados por um aumento do Gasto Energético de Repouso, e na oxidação de lipídeos, com diminuição da oxidação de proteínas.
Estas mudanças na composição corporal parecem ocorrer sem uma alteração significante do aumento do consumo de energia, e podem representar, na verdade, uma redistribuição dos estoques de energia corporal.


INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL E TRATAMENTO
A investigação laboratorial deve incluir avaliação endocrinológica, em especial os níveis séricos de testoterona.
Em casos de deficiência hormonal, a reposição androgenica deve ser realizada.
Vários esquemas terapêuticos têm sido propostos, embora, os estudos ainda estejam em fase preliminar.
Um deles sugere a utilização de cipionato de testoterona 200 mg, IM, a cada 2 ou 3 semanas, com avaliação clínica e laboratorial periódica a cada 2 a 3 meses, para se decidir a dose e o período de uso.
Outro esquema terapêutico é a utilização de decanoato de nandrolona 50 mg, Im, a cada 2 a 3 semanas .
Em indivíduos com níveis séricos de testoterona dentro da normalidade, doses menores de anabolizantes podem ser utilizadas.
O controle da função hepática e dos níveis séricos de Antígeno Prostático Específico (PSA) deve ser realizado a cada 2 ou 3 meses.


TRATAMENTOS ESTÉTICOS
Os tratamentos estéticos para lipoatrofia facial e de membros tem obtido excelentes resultados com substâncias como o ácido polilático- New Fill, injeções locais de preenchimento- com colágeno e ácido hialurônico, assim como com hormônios anabolizantes e GH.

por Bruno Molinari


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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fonte - www.mixbrasil.uol.com.br/mundomix/saude/dia_aids/