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09/08/2007 - IAS

Incidência de Câncer Anal na França


No dia 15 de agosto de 2006, pesquisadores informaram durante a XVI Conferência Internacional de AIDS em Toronto que a incidência de câncer anal aumentou dramaticamente na França apesar da introdução da terapia potente contra o HIV

O câncer anal é causado por certos tipos de vírus do papiloma humano (HPV). A pesquisa mostra que as PVHIV têm mais chances de se infectarem com o HPV, e parecem ter mais chances de desenvolver células pré-cancerosas chamadas de lesões intraepiteliales escamosas (SIL) e evoluir para o câncer. Vários estudos recentes sugerem que as taxas de infecção anal pelo HPV e SIL não declinaram na era da terapia efetiva para o HIV.

Christophe Piketty e colegas conduziram um estudo para determinar as taxas de incidência e fatores de risco para o câncer anal em PVHIV. Eles coletaram dados sobre casos de câncer anal registrados no Banco de Dados francês para HIV, que incluía 81,752 PVHIV, entre 1992 e 2003. As taxas de incidência de câncer anal foram calculadas para três períodos:

Pré-terapia tríplice: janeiro de 1992 até março de 1996;


Terapia tríplice inicial: abril 1996 até 1998;


Terapia tríplice recente: janeiro de 1999 até dezembro de 2003.


Um total de 207 pacientes foram diagnosticados com câncer anal, dos quais 97 tiveram novos casos confirmados durante o período do estudo. Dos 97 casos, nove (9%) foram em mulheres, 23 (23%) em homens que não informaram contato sexual com homens, e 65 (67%) em HSH. De todos os casos de câncer anal, 67% foram em homens gays ou bissexuais.

Entre os pacientes diagnosticados com câncer anal, a mediana de idade foi de 42 anos. A contagem mediana de células CD4 na época do diagnóstico era de 265 células/mm3, e o nadir mediano (menor nível) de CD4 foi de 80 células/mm3. Ao redor de 42% tiveram uma doença que define AIDS e 74% estavam recebendo terapia tríplice contra o HIV antes do diagnóstico de câncer anal, com duração mediana de ao redor de cinco anos.

Segundo o período de tempo, 10 casos foram diagnosticados na era pré-terapia tríplice, 13 no período inicial da terapia tríplice e 74 no período de terapia tríplice recente. A taxa geral de câncer anal foi de 10 por 100,000 pessoas/ano (PA) durante o período pré-terapia tríplice, comparada com 13 por 100,000 PA durante o período de inicial da terapia tríplice e 37 por 100,000 PA durante a período recente de terapia tríplice. A taxa de câncer anal do período recente de terapia tríplice foi aproximadamente quarto vezes superior à taxa correspondente à pré-terapia tríplice.

Entre os períodos pré-terapia tríplice e de terapia tríplice recente, a taxa de câncer anal aumentou entre mulheres, homens heterossexuais e HSH. Analisando somente o ultimo grupo, a incidência aumentou de ao redor de 16 casos por 100,000 PA durante o período pré-terapia tríplice para 27 por 100,000 PA durante o período inicial de terapia tríplice e para 62 por 100,000 PA durante o período de terapia tríplice recente.

Numa análise multivariada controlando por fatores que podem confundir, o risco de câncer anal foi associado independentemente com categorias de gênero e risco sexual (p < 0.001), diagnóstico de AIDS (p < 0.001), e uso de terapia potente contra o HIV (p = 0.057).

Entre os pacientes com câncer anal, 21 desenvolver metástases (espalhando para outras áreas), 55 não desenvolveram, e dados de acompanhamento não estavam disponíveis para 21. Aproximadamente um terço recebeu radioterapia ou quimioterapia, 12 só realizaram cirurgia, e metade recebeu ambas formas de tratamento. Houve um total de 37 mortes, 24 delas devidas ao câncer anal. A probabilidade de sobrevivência por três anos após o diagnóstico de câncer anal foi de 75%.

Os pesquisadores concluíram que houve “um aumento significativo da incidência de câncer anal desde a introdução da [terapia tríplice] no tratamento de pacientes na França.” Eles acrescentaram que seus resultados coincidem com outros estudos mostrando que a “[terapia tríplice] não exibe efeito favorável sobre a incidência de câncer anal.”

Durante a discussão, Piketty e o moderador Joel Palefsky atribuíram o aumento da incidência ao fato de que a terapia tríplice preservou a vida das PVHIV um tempo suficiente para progredir para câncer anal.

Piketty e colegas disseram que seus dados “apóiam a necessidade urgente de programas de testagem para o desenvolvimento de câncer anal entre PVHIV,” tanto em tratamento como sem terapia antiretroviral.

Reference

Piketty, C, et al. Dramatic increase in the incidence of anal cancer despite HAART in the French hospital database on HIV. Sixteenth International AIDS Conference, Toronto, abstract TUAB0305, 2006.