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A CIRCUNCISÃO NA IAS

07/08/2007 - IAS

Estudo não encontra valor para a prevenção do HIV

IAS: A circuncisão pode ser aceitável para alguns homens gays, mas o estudo não encontra valor para a prevenção do HIV

Desde que a circuncisão masculina mostrou eficácia na redução da transmissão do HIV da mulher para o homem em homens africanos heterossexuais, alguns perguntam se esta ferramenta pode também ser eficaz em outras populações afetadas pelo HIV, incluindo gays e outros grupos de HSH.

Dois estudos contrastantes examinaram este ponto na 4a Conferência da IAS sobre Patogênese, Tratamento e Prevenção do HIV em Sydney. O primeiro, realizado em HSH da América do Sul mostrou que a circuncisão seria aceitável como um método para a prevenção do HIV. O segundo, porém, mostrou que gays circuncidados e não circuncidados em Sydney, Austrália, tinham igual risco de se infectarem pelo HIV.

O Dr. Juan Guanira da Asociación Civil Impacta Salud y Educación, Peru, informou sobre um estudo que observou ser os HSH da América do Sul desejariam participar de um ensaio sobre circuncisão.

Durante cinco meses do primeiro semestre de 2006, 2,048 participantes que não conheciam sua sorologia para o HIV foram recrutados em três cidades do Peru e em uma do Equador. Os participantes responderam a um questionário e foram testados para HIV e sífilis. Onze por cento (11%) testaram positive para HIV e 8% foram diagnosticados com sífilis precoce. A taxa de circuncisão entre os participantes foi de 3.7%, com taxas levemente superriores em cidades maiores (ao redor de 5%).

Entre homens que informaram só sexo anal insertivo, houve uma tendência (p = 0.07) entre os circuncidados a ter uma menor prevalência de HIV, mas os números foram muito pequenos para tirar alguma conclusão significativa deste achado.

Somente mais da metade (54.3%) dos participantes disse que eles quereriam participar de um ensaio de circuncisão. Residentes de cidades maiores como Lima, Peru e Guayaquil, Equador, tiveram mais intenção de participar. A intenção foi também maior entre os homens com mais educação.

Quando perguntados sobre suas preocupações, os homens afirmaram que estavam preocupados pela realização de uma cirurgia (62%), efeitos adversos relacionados com a cirurgia (72%), e encontrar parceiros que insistiriam em fazer sexo sem preservativos (75%).

Os autores concluem que esta alta taxa de intenção combinada com as baixas taxas de circuncisão “fornecem uma oportunidade excelente para implementar um ensaio de circuncisão na região andina onde a epidemia do HIV está concentrada em HSH.” Falta observar se a circuncisão reduzirá a transmissão do HIV nesta população.

Circuncisão, homens gays e incidência do HIV em Sydney, Austrália

O segundo estudo mostrou que a circuncisão não seria uma ferramenta eficaz para a prevenção do HIV em homens gays, pelo menos em Austrália. A apresentação, realizada por David Templeton do Centro Nacional de Pesquisa em Epidemiologia e Clínica para HIV, Universidade de Nova Gales do Sul, deu detalhes de um estudo que observou o status de circuncisão e soroconversão para o HIV na coorte Saúde em Homens (HIM) formada por homens homossexuais em Sydney.

A coorte HIM acompanha inicialmente 1,427 homens sem HIV recrutados entre 2001 – 2004. Os dados coletados eram sobre status da circuncisão, comportamento sexual de risco, e a incidência de DSTs. Também foram realizados testes anuais de HIV. No momento do recrutamento, dois terços (66%) dos participantes da coorte informaram serem circuncidados. Num subestudo, 247 homens realizaram um exame físico para determinar se podiam informar corretamente de seu status de circuncisão. O estudo mostrou que 100% dos homens puderam determinar corretamente se eram circuncidados ou não.

Em 2006, houve 49 soroconversões entre os participantes da coorte (29 em homens circuncidados, e 13 em homens não circuncidados), representando uma incidência de 0.80 por 100 pacientes/ano. Não houve diferença na incidência da infecção pelo HIV entre homens circuncidados e não circuncidados. Este fato permanece verdadeiro quando as variáveis são controladas por idade, DSTs anorectais e relação sexual anal desprotegida (RSAD) tanto insertiva como receptiva com alguém HIV-positivo.

Entre os homens que informara não realizar RSAD receptiva, houve nove soroconversões, para uma incidência de 0.35 por 100 pacientes/ano. Mais uma vez, não houve diferença no risco de infecção pelo HIV entre homens circuncidados e não circuncidados.

Os pesquisadores concluem: “Apesar de que o poder estatístico foi limitado, entre homens que tinham mais chances de adquirir o HIV através de RSAD, não houve relação [entre circuncisão e soroconversão para o HIV]. Como muitas infecções pelo HIV em homens homossexuais ocorrem depois de relações anais receptivas, a circuncisão dificilmente será uma intervenção efetiva para prevenção do HIV em homens gays da Austrália.”

Referências

Guanaria J et al. How willing are gay men to “cut off” the epidemic? Circumcision among MSM in the Andean region. Fourth International AIDS Society Conference on HIV Pathogenesis, Treatment and Prevention, abstract WEAC102, Sydney, 2007.

Temptleton DJ et al. Circumcision status and risk of HIV seroconversion in the HIM cohort of homosexually active men in Sydney. Fourth International AIDS Society Conference on HIV Pathogenesis, Treatment and Prevention, abstract WEAC103, Sydney, 2007.

Michael Carter & David McLay, 25 de julho de 2007, aidsmap