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O INIMIGO INTERNO

05/10/2006 - EFE

Aids dizima fileiras das forças de paz na Ãfrica

Os soldados africanos em missões de paz não só estão lutando para que o continente se mantenha sem guerras, mas também contra um inimigo interno que está dizimando suas fileiras: a Aids.
Um estudo divulgado hoje na África do Sul indica que a infecção do vírus da Aids se tornou uma grande preocupação entre as forças de paz africanas que cumprem missões no continente.
O relatório, que leva o título de "O Inimigo interno: a luta dos militares do sul da África contra o HIV e a Aids", é publicado pelo Instituto para os Estudos de Segurança, fundado em Pretória.
O documento assinala que só dois países, África do Sul e Botsuana, entregam anti-retrovirais a seus efetivos militares quando os destinam a missões de paz.
As tropas destes países recebem uma dose de anti-retrovirais a cada noventa dias, uma medida que, de acordo com o estudo, deveriam fazer o resto das nações do continente com os soldados em missões de paz.
"Os militares se encontram entre os grupos mais ativos sexualmente e os jovens recrutas costumam ter pouca experiência sexual", indica o especialista Reginald Matchaba-Hove, da Universidade do Zimbábue.
A isso se unem os longos períodos fora de seu país, a procura por prostitutas e o poder que têm os efetivos das missões de paz comparados com os das comunidades locais nas quais se encontram.
Segundo Matchaba-Hove, na República Democrática do Congo, descobriu-se uma nova variedade do vírus da Aids à qual ficaram expostos soldados zimbabuanos que participaram desse conflito.
Não há dados exatos sobre o impacto da Aids nos exércitos do sul da África, a área com os maiores níveis de infectados com o vírus, mas os cálculos indicam que na África subsaariana entre 20% e 40% dos militares são soropositivos.
Segundo o estudo, nos países onde o vírus esteve presente há mais de dez anos, o índice de militares soropositivos sobe entre 50% a 60%.
Só na Zâmbia, segundo o relatório, desde 1983 morreram mais soldados por causa da Aids do que pelas operações militares nesse país, incluindo a luta pela independência do Reino Unido, em 1964.
E no Zimbábue, em 2002 sabia-se que a metade dos soldados eram soropositivos. Um ano depois, um relatório calculou que dois terços dos militares desse país morriam no ano seguinte após serem licenciados.
A África do Sul, o segundo país com o maior número de infectados com o vírus da Aids, depois da Índia, com mais de cinco milhões de contagiados, reconheceu no ano passado que entre 17% e 23% de seus militares são soropositivos.
"Os países do sul da África têm uma população de 230 milhões de pessoas, e calcula-se que 20% delas está infectado com o vírus da Aids e precisam de medicação", assinala o autor do relatório, Martin Rupiya.
O estudo não só recomenda estender a entrega de anti-retrovirais a todos os membros das missões de paz, mas também mudar suas rotinas, a fim de criar "antídotos contra o aborrecimento e os comportamentos arriscados", acrescenta Rupiya.