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16/08/2006 - www.notiese.org

Prevenção do HIV é muito mais do que ABC

Toronto, Canadá, agosto 15 de 2006 (Rocío Sánchez-enviada/ NotieSe*).- A prevenção do HIV/AIDS deve ser muito mais do que ABC (abstinência, fidelidade, camisinhas), tal como propõe o governo dos Estados Unidos, afirmou a doutora Gita Ramjee , do Conselho Sulafricano de Pesquisa Médica.
Durante a segunda reunião plenária da XVI Conferência Internacional de AIDS, a pesquisadora arrancou aplausos dos assistentes ao afirmar que as “novas e promissoras tecnologias em desenvolvimento” para prevenir a infecção devem ser tomadas em conta e ser apoiadas para ter sucesso na luta contra a infecção.
Assim, propôs acrescentar outra C para “circuncisão”, D para “diafragma”, E para “profilaxia pré e pós exposição”, F para “microbicidas controlados pelas mulheres”, G para “controle das infecções genitais”, H para “tratamento supressivo da herpes” e I para “imunidade”.
Os microbicidas darão à mulher o poder de prevenir o HIV, afirmou e detalhou que na atualidade há entre 30 e 40 produtos em teste, cinco deles em fase eficácia em grande escala. Os primeiros resultados serão publicados em 2007 e se aprovados poderiam estar disponíveis para 2010.
As barreiras cervicais (no colo do útero) , como o diafragma, são outra opção para as mulheres r sua possível efetividade deve-se a que a cérvix é mais suscetível à infecção pelo HIV.
Por outro lado, a circuncisão, funciona principalmente devido a que a pele do pênis queratiniza-se, o que acelera a morte do HIV; também reduz as células que poderiam ser infectadas pelo vírus. Além disso, a nível epidemiológico está demonstrado que os homens circuncidados têm menor prevalência da infecção. Para 2007 espera-se mais resultados respeito deste método.
Sobre a Profilaxia Pós Exposição (PPE), tenofovir e truvada são dois dos fârmacos em teste. Existem 5 pesquisas na atualidade, uma delas realizada entre homens homossexuais. Entre os principais desafios para este método estão os vírus resistentes a alguns medicamentos e o dilema sobre se é aceitável a medicação crônica em pessoas sadias.
Depois de enumerar resultados das pesquisas em curso, Ramjee sublinhou “só haverá sucesso para deter o HIV se combinarmos métodos sociais, médicos e de comportamento”.

Redução de danos

Alex Wodak, pesquisador do Hospital São Vicente de Sydney, Austrália, destacou que a população que usa drogas injetáveis representa um terço das pessoas infectadas fora d África Subsaariana, assim como dez por cento das novas infecções no mundo, constituindo um setor significativo para a luta contra o HIV/aids.
Em contraste, as intervenções de redução de danos nesta população têm sido uma das mais efetivas estratégias na história do combate à epidemia razão pela qual os países que a adotaram não a suspenderam.
O pesquisador criticou a política antidrogas mais dura do mundo, aquela dos Estados Unidos, porque os estudos demonstram que não consegue inibir o uso de drogas injetáveis, razão esta pela que a população usuária continua em risco de se infectar.
A redução de danos, lembrou, consiste em implementar programas de seringas disponíveis para os usuários e programas eficazes de desintoxicação como aqueles baseados na substituição de drogas por metadona para deixar a adicção. “As restrições excessivas para a droga são o maior obstáculo para implementar estratégias de redução de danos, motivo pelo qual necessitamos políticas baseadas no mundo no qual vivimos, não em fantasias”, concluiu.

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Ninguém sabe se poderá ser desenvolvida uma vacina contra o HIV
* Pesquisadora espera certeza “neste século”
* A prevenção não deve ser alheia a fatores sócioculturais, afirma outra especialista

Toronto, Canadá, agosto 15 de 2006 (Rocío Sánchez-enviada/ NotieSe ).- A 25 anos da luta contra o HIV/AIDS, a comunidade científica não sabe se será ou não capaz de criar uma vacina preventiva contra a infecção, afirmou a doutora Françoise Barre-Sinoussi , pesquisadora do Instituto Pasteur da França. Não obstante, confiou em que “durante este século” a resposta será conhecida.
A cientista lembrou que desde o primeiro teste de vacinas em 1987, realizaram-se 85 estudos que ficaram na Fase I, 30 que chegaram à Fase II e mais 39 atualmente estão em desenvolvimento.
As vacinas, explicou, estão desenhadas em base a dois princípios: bloquear a infecção ou eliminar as células infectadas. É importante, destacou Barre-Sinoussi, que os cientistas do mundo “ponham mais imaginação” no desenvolvimento de uma possível vacina, porque se não for possível descobrir uma que evite a infecção, os esforços devem ser focados na criação de uma do segundo tipo.
Entre os principais obstáculos para desenvolver uma vacina contra o HIV, explicou a pesquisadora, estão o desconhecimento da interação que existe entre a imunidade inata para o vírus e aquela que o organismo humano desenvolve ao entrar em contato com ele. De fato, das 16 vacinas existentes até agora para combater outras doenças, 12 agem contra infecções agudas e não contra infeccções persistentes.
Da mesma forma, os cientistas conhecem pouco o mecanismo de transmissão deo HIV entre uma e outra célula, desconhecem as alterações das células –infectadas ou não- numa pessoa que vive com o vírus. A isto devemos acrescentar as limitações que implica ter que experimentar com as vacinas em animais.

Compromissos

Na sessão plenária de hoje, Cristina Pimenta, da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), comentou que os novos paradigmas da prevenção devem focar os contextos socioeconômicos e culturais daquelas populações de maior vulnerabilidade perante o HIV, tais como os jovens, as mulheres e os homens que têm sexo com outros homens.
Sobre estes últimos, detalhou que só 9 por cento recebe alguma informação para prevenir a infecção, enquanto que menos da metade dos jovens no mundo têm acesso a estratégias de prevenção.
Para resolver o problema, disse Pimenta, é necessário levar em conta fatores como a violência física, sexual e estrutural, além da violência de gênero e a rejeição à diversidade sexual.
O ministro de Saúde francês, Xavier Bertrand, também esteve presente na sessão plenária, onde qualificou de inaceitável o fato de que “os tratamentos estão no (hemisfério) norte e os infectados no sul”, e anunciou que seu país aumentará a 3 milhões de euros sua contribução para o Fundo Global contra a AIDS, a Tuberculose e a Malária.

“A luta contra a AIDS é uma luta pela vida, pela justiça, pela dignidade humana e pelo desenvolvimento ”, afirmou o funcionário.

tradução Jorge Beloqui - GIV