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UMA LUTA HERÃICA

14/08/2006 - EFE

Heroínas africanas da aids são homenageadas em Toronto

Até agora elas eram apenas uma peça a mais no quebra-cabeças da aids, mas as "as avós da aids", mulheres que o enviado especial da ONU para a aids na África chamou de "heroínas", estão dispostas a vencer a tragédia que vem dizimando o continente.
Stephen Lewis, o enviado especial do secretário-geral da ONU, não pôde conter as lágrimas quando, na sexta-feira, abriu a primeira Reunião de Avós diante de mais de 300 mulheres, cerca de 100 delas procedentes da África, as quais chamou de "heroínas anônimas".
Entre as 300 mulheres estavam Matilda Mwenda, Cherry Matimuna e Priscillar Mwanza, de Kabwe (cerca de 110 quilômetros ao norte de Lusaca, Zâmbia), avós que adotaram os filhos de seus filhos mortos pela Aids e, em muitos casos, os filhos de outras mulheres também mortas pela doença.
Alguns desses órfãos também são portadores do vírus da aids.
É a nova realidade que dizima o coração da África, e ao mesmo tempo forja o caráter das "Abelhas Fatigadas", a pequena rede de ajuda que as avós da aids de Kabwe formaram para se apoiarem mutuamente.
Matilda é uma das quatro mulheres africanas que protagonizam "Avós", um documentário financiado pela Fundação Stephen Lewis e que descreve a vida destas mulheres.
"Ontem foi a primeira vez que vi o filme. É muito bonito, e é um alívio. Pensava que era a única pessoa que sofria com esta doença", disse Matilda.
Matilda suspira quando lembra da vida de Karmela, outras das avós cuja vida é mostrada no documentário.
Karmela mantém mais de 25 órfãos em sua casa. Para mantê-los, todos trabalham em uma pedreira sete dias por semana, e a cada duas semanas, acumulam o equivalente a US$ 11.
Karmela é portadora do vírus da aids, que foi contraído através das feridas permanentemente abertas em suas mãos pelo trabalho na pedreira. Ela foi infectada quando cuidava de seu filho mais velho, já morto em conseqüência da doença.
Estima-se que vivam nos países da África subsaariana cerca de 13 milhões de crianças órfãs por conta da aids.
E a situação não tende a melhorar nos próximos anos. Das cerca de 40 milhões de pessoas infectadas pelo vírus no mundo todo, 24,5 milhões estão na África e 13,2 milhões são mulheres.
O número de órfãos africanos da Aids tende a aumentar e a projeção para 2010 é de 18 milhões. Mais da metade sobreviverá graças ao trabalho de avós, como Matilda.
"Cuido de dois netos meus. Cinco dos meus irmãos e mais cinco de outras pessoas", disse ela.
Matilda ainda trabalha 16 horas por dia no orfanato local para atender os filhos das pessoas mortas em decorrência da aids. Durante o fim de semana, ela presta serviços a um asilo que atende adultos com a doença.
Matilda lembra de quando decidiu, há três anos, se dedicar à luta contra a aids em sua comunidade, após ter perdido quatro irmãos, uma irmã e sua filha por conta da doença.
A mulher se responsabilizou por Mark, então com seis meses, filho de uma mulher morta pela aids.
"Quando chegou estava tão magrinho... não achei que fosse sobreviver", lembra.
Apesar disso, Matilda assumiu o menino. Durante meses o carregava em suas costas e andava várias horas até chegar ao hospital mais próximo para que fosse atendido e recebesse medicações.
"Agora ele me chama de 'mãe'", diz Matilda, orgulhosa.