Indetectável = Intransmissível?

Relatório de caso clínico – Carga viral indetectável no sangue mas detectável no sêmen.

Michael Carter, 05 de setembro de 2008

Médicos franceses reportaram na 12a edição de AIDS de Setembro, o caso de um homem com infecção HIV, com carga viral indetectável no sangue, que continuava a ter níveis detectáveis de HIV no sémen.

Este relatório de um caso clínico pode trazer mais informação para a discussão acerca da infecciosidade dos doentes que estão sob terapêutica anti-retroviral, discussão essa induzida pela “Declaração Suíça” em Janeiro deste ano. Outros investigadores encontraram recentemente um caso provável de transmissão do HIV de um doente a tomar terapêutica anti-retroviral e que tinha uma carga viral indetectável. Um estudo francês separado descobriu que aproximadamente 5% dos doentes com uma carga viral indetectável no sangue, tinham HIV presente no sêmen. Mas os investigadores norte-americanos não encontraram casos de transmissão do HIV que envolvessem pessoas em terapêutica anti-retroviral com uma carga viral indetectável e que quando houve transmissão estava relacionada com a carga viral no sangue e não no sêmen.

O caso presente envolve um homem com infecção HIV que estava em tratamento num centro de reprodução assistida. Em Junho de 2006 começou um tratamento anti-retroviral com um regime que incluía AZT, 3TC e fosamprenavir/ritonavir. A carga viral do doente desceu para nível indetectável mas a carga viral no esperma continuava detectável.

Em Maio de 2007 o doente mudou o regime terapêutico para FTC, tenofovir e lopinavir/ritonavir. A carga viral no sangue permaneceu indetectável mas 6 meses depois de ter iniciado este regime, o HIV continuava detectável no esperma.

Depois de 11 meses de tratamento com o segundo esquema terapêutico, a carga viral no esperma do doente desceu lentamente para valores abaixo das 400 cópias/ml.

Os investigadores não encontraram nenhuma razão óbvia que justificasse a persistência de valores detectáveis de carga viral no esperma. Não havia evidência de resistência aos medicamentos anti-retrovirais, nem nas amostras de sangue do doente nem nas amostras de esperma. Além disso, a adesão do doente parecia boa, com valores de carga viral no sangue indetectáveis, por um período de mais de 2 anos.

“Este relatório de um caso clínico confirma que a terapêutica anti-retroviral altamente eficaz pode atuar de forma distinta no sangue e no esperma e que o HIV pode continuar a estar presente apesar de um controlo eficaz de HIV no sangue”, escreveram os investigadores.

Os investigadores consideram que a penetração insuficiente dos medicamentos anti-retrovirais no trato genital possa ser a explicação mais provável para que o HIV permaneça detectável no esperma do doente, por um período tão dilatado de tempo. Em Março de 2008, dez meses depois do início do segundo regime terapêutico, só se detectou a presença lopinavir/ritonavir no esperma deste doente. Não existiam vestígios de emtricitabina nem de tenofovir.

“O aconselhamento na prevenção da transmissão sexual deveria incluir a possibilidade de replicação do HIV oculta, mas persistente no trato genital”, concluíram os investigadores.

Referências:
Pasquier C J-M et al. Persistent differences in the antiviral effects of highly active antiretroviral therapy in the blood and male genital tract. AIDS 22: 1894 – 95, 2008.

Tradução:
GAT - Grupo Português de Activista sobre Tratamentos HIV/SIDA