Indetectável = Intransmissível?

Aids: o alcance do objetivo final pode estar próximo

Jornal The Independent do Reino Unido comenta artigo em The Lancet: ARVs diminuem notavelmente o risco de transmissão - 2010

Quinta-feira, 27 de maio de 2010

Em meados da década de 1990, o desenvolvimento dos medicamentos antirretrovirais foi aclamado como a resposta a uma praga moderna. Ao transformar uma infecção letal em uma doença crônica, com a qual os infectados podem conviver em vez de morrer, os medicamentos modificaram as perspectivas de milhões de pessoas.

O que não foi percebido àquela época, e que somente agora estão ficando mais claro, é que os medicamentos que salvaram as pessoas com HIV/aids de uma sentença de morte também ajudaram a reduzir, e quase eliminar, a transmissão do vírus. Uma preocupação inicial entre os pesquisadores foi que, ao mesmo tempo que o aumento da sobrevida das pessoas infectadas com HIV era uma conquista evidente, pudesse haver o risco de contribuir para a piora da pandemia porque, com o aumento de sobrevida, existiria a possibilidade de transmitirem o vírus por mais tempo.

Felizmente, esta preocupação foi infundada. Ao contrário, os medicamentos antirretrovirais prolongam a vida ao retardar a evolução do HIV para aids, e também restringem a disseminação da infecção ao reduzir a carga viral. É o tratamento e a prevenção ao mesmo tempo.

Depois de décadas em busca de uma bala mágica que pusesse fim à pandemia global, pode ser que a melhor arma tenha estado diante de nós o tempo todo. Se for possível ampliar o tratamento com antirretrovirais para além das quatro milhões de pessoas doentes que atualmente o recebem, poderíamos reduzir substancialmente a disseminação do vírus – e talvez, em última instância, até eliminá-lo.

O fator limitante é o custo. Manter as 33 milhões de pessoas infectadas com HIV no mundo inteiro em tratamento antirretroviral para o resto da vida teria um custo enorme. Contudo, o custo de não fazer isso será igualmente alto – quando medido em termos do tratamento e atenção de que precisarão no futuro.

Mesmo se o tratamento universal esteja fora do nosso alcance, isto não é impedimento para atuarmos em outras frentes. Os medicamentos antirretrovirais são seguros, tendo poucos efeitos colaterais, que por sua vez não precisam de muito monitoramento. Um estudo publicado há seis meses na revista The Lancet concluiu que os testes laboratoriais rotineiros para os sinais de efeitos colaterais – considerados essenciais há muito tempo no tratamento do HIV – são desnecessários e um desperdício de tempo e dinheiro.

Ao abandonar os testes rotineiros, que custam caro e requerem equipamentos sofisticados disponíveis apenas em hospitais, o dinheiro economizado poderia ser utilizado para comprar e distribuir medicamentos para mais um milhão de pessoas. Isto não acabaria com a lacuna entre o que está sendo feito atualmente e o que deveria ser feito – mas ajudaria a diminuí-la.

O investimento adicional de esforços e recursos ainda será necessário, mas pelo menos sabemos qual objetivo queremos alcançar. A tarefa que nos sobra é conseguir o meio para se chegar lá.